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Humberto de Campos foi obsediado por Chico Xavier


Francisco Cândido Xavier cometeu crueldades que nem o pretexto de "palavras de amor" e sua falsa humildade podem justificar. Por trás de sua figura "bondosa", houve uma série de práticas fraudulentas e obsessivas, usurpando principalmente a memória dos mortos.

Um dos casos mais levianos e deploráveis da obra de Chico Xavier é sua apropriação indébita do nome de Humberto de Campos, o que subentende uma revanche pelo fato de que o escritor maranhense havia feito uma crítica ao livro Parnaso de Além-Túmulo, quando Humberto ainda estava vivo, em 1932.

Aparentemente, Humberto "reconheceu" a semelhança dos poemas publicados no livro de Chico Xavier, em crônica de duas partes publicada no Diário Carioca, em 10 e 12 de julho de 1932. Não se sabe se por ironia ou por condescendência, ele admitiu verossimilhança no conteúdo do livro poético, como se os autores mortos realmente tivessem escrito os poemas a eles atribuídos.

É possível que seja uma ironia, pelo senso de humor que o descontraído escritor maranhense teve. E, pela relativa juventude do autor, então com 46 anos de idade, dois anos antes de morrer, e pelo ineditismo do livro resenhado, é possível que, se Humberto vivesse uns 20 anos mais, teria percebido melhor as fraudes do livro, denunciadas largamente nos anos 1960.

O que se sabe é que Chico Xavier não gostou da resenha do livro. Achou que havia uma certa gozação, sobretudo na queixa de Humberto de que os autores vivos teriam que competir com a "turma do além" para vender livros. E resolveu se vingar.

Anunciando um suposto sonho em que um "Humberto de Campos" aparecia "bondosamente" perguntando se Chico Xavier era o "menino do Parnaso", que o anti-médium mineiro atribuiu a 1935, instituiu-se um dos mais pérfidos casos de obsessão espiritual feitos sob o nome do Espiritismo.

Chico Xavier passou a produzir livros usando o nome de Humberto de Campos, numa apropriação indébita e oportunista de um autor que, na época, era bastante popular (pelo menos, nos níveis que João Ubaldo Ribeiro tem hoje), e que hoje virou "propriedade" do anti-médium mineiro, como se atestam as pesquisas no Google usando apenas o nome do escritor.

Lendo com atenção os livros de Humberto de Campos produzidos em vida do autor e, depois, comparando com os livros que Chico Xavier escreveu usando o nome do autor maranhense, nota-se o contraste aberrante de estilos, como se Humberto tivesse se tornado um autor diferente do que ele havia sido na Terra.

Seria um grande absurdo reconhecer que um autor, quando morre, perde o seu estilo ou decai em talento. Isso é impossível, pois, com o fim da vida corpórea, os aspectos individuais se tornam ainda mais acentuados, e não atenuados. E seria uma grande tolice achar que os mortos doam seus talentos em nome da caridade e se reduzem a meros garotos-propagandas do igrejismo "espírita".

Sobre Humberto, a obra que ele produziu em vida se caraterizava pelo estilo ao mesmo tempo culto e coloquial. Sua prosa era fluente e descontraída, com eventuais momentos de humor. Sua temática era geralmente laica, mesmo quando se tratava de religião. A prosa se ocupava de personagens políticos e da vida literária brasileira. Consta-se que Humberto de Campos era ateu, para reforçar os dados.

O "espírito" Humberto se manifesta de forma diferente e oposta ao do escritor maranhense. Sua narrativa era melancólica, sua prosa bastante pesada e, em que pesem o uso de palavras cultas, a linguagem não era fluente e os textos eram bastante cansativos. A temática era meramente religiosa, com ênfase nos personagens bíblicos. Os textos eram tristes e deprimentemente igrejista.

Chico quis criar um Humberto de Campos diferente do original e isso causou sério problema judicial. Herdeiros de Humberto, a viúva e seus filhos, decidiram processar Chico Xavier e a FEB em 1944. Poderiam ter ganho a causa de bandeja, não fosse pela formulação um tanto hesitante da ação judicial.

Pois o processo sugeria uma inexplicável verificação da obra de Humberto de Campos para ver se ela era verídica ou não. Se fosse, o dinheiro da venda dos livros de Chico Xavier reverteria em direitos autorais pagos aos herdeiros do escritor. A Justiça julgou a ação improcedente e deu o processo por empatado. Nenhum dos dois lados ganhou.

No entanto, era um daqueles "zero a zero" que rende vantagem a uma das partes. Chico Xavier levou pontos com o empate jurídico, mas teria perdido a ação se os herdeiros tivessem adotado um enunciado firme, como processar Chico e a federação por apropriação indébita da identidade de um escritor. Se fosse isso, Chico teria sido derrubado e seu mito morrido naquele 1944.

Em vez disso, o empate favoreceu Chico Xavier, ele e Antônio Wantuil de Freitas escreveram mensagem do suposto Humberto de Campos manifestando "tristeza profunda" pela batalha judicial, depois que o julgamento se deu.

Com o empate, o mito de Chico Xavier começou a crescer, e ele passou a ser "dono" de Humberto de Campos, com o direito até de criar um pseudônimo para "evitar novos dissabores", chamado Irmão X, nome que parodia o Conselheiro XX que foi um dos codinomes do autor em vida.

E aí Humberto de Campos "sofreu" nas mãos de Chico Xavier, sendo a ele atribuída a mais leviana acusação contra os pobres desafortunados que morreram ou perderam entes queridos na tragédia do Gran Circo Norte-Americano, incendiado em Niterói em dezembro de 1961.

O dedo acusador de Chico Xavier, que, para livrar-se da culpa, atribuiu à responsabilidade a um Humberto de Campos que não está aí para reclamar, inventou que as vítimas do incêndio do circo montado em Niterói eram gauleses que sentiam prazer em ver hereges sendo queimados vivos nas arenas então administradas pelo Império Romano, no ano 177 d.C.

Tal leviana acusação revela o lado perverso do "homem chamado Amor", que perdeu a oportunidade de prestar sua solidariedade às vítimas e seus familiares, perdendo para o Profeta Gentileza que, tido como "maluco", prestou seu ato solidário sem verificar quem foi quem em outras vidas.

Por caso semelhante, Woyne Figner Sacchetin, médico e suposto médium de São José dos Campos (SP), foi processado judicialmente por ofender os familiares de um acidente da TAM, ocorrido em 2007 e que matou 199 pessoas em São Paulo, e ainda mais usando o nome de Alberto Santos Dumont, uma apropriação para lá de perversa e leviana.

Chico Xavier foi protegido pelo seu mito, que acoberta seus piores erros e o livra da responsabilidade de todos eles. É o único brasileiro tido com o pretenso direito de ser inocentado até de suas culpas mais comprovadas.

Mas é só pararmos para pensar e perceber que, só pela obsessão que Chico Xavier sentiu por Humberto de Campos, a ponto de usurpar seu nome e seu legado e virar "dono" do escritor maranhense na posteridade (mesmo depois da morte do anti-médium), para que o mito de Chico Xavier seja descartado e sua suposta imagem de perfeição seja jogada no lixo.

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