Os enxertos católicos na versão brasileira do Espiritismo não foram inseridos por Chico Xavier, médium que apesar de grande facilidade de comunicação com os espíritos, era católico fervoroso, praticante e tinha como "madrinha" a Nossa Senhora da Abadia, uma entidade tipicamente católica e totalmente estranha à Doutrina Espírita.
Na verdade, Xavier encontrou um ambiente propício para que pudesse agir sem abandonar suas crenças pessoais. O Espiritismo brasileiro já possuía todas as características católicas devidamente enxertadas, que vemos hoje em dia. Desde o início da FEB, a federação que diz representar o Espiritismo, mas ignorando todos os pontos originais, admitindo dele apenas a pluralidade das existências e a comunicabilidade com os mortos.
Um dos fundadores da FEB, e consequentemente do Espiritolicismo, e um dos primeiros presidentes da federação foi o cearense radicado no Rio de Janeiro Adolfo Bezerra de Menezes, tradicionalmente endeusado como "Apóstolo" (tinha que ser - termo catolizado) pela mitologia espiritólica. Bezerra era católico praticante, como os fundadores da citada entidade, não hesitando em inserir na doutrina todo tipo de enxerto que achava conveniente inserir para fazer do Espiritolicismo uma nova igreja.
Bezerra não entendeu a doutrina, embora os leigos e os espiritólicos o estigmatizem como o "Kardec brasileiro", embora o cearense cidadão tenha optado por seguir Roustaing, algoz ideológico de Kardec (algoz no sentido de opositor ideológico - Kardec, coerentemente, não tinha inimigos), que definiu como "ideias avançadas" sobre o "Espiritismo".
Aqui abaixo reproduzo um texto de autoria atribuída a Bezerra de Menezes, em que mostra um festival de enxertos católicos colocados de maneira confusa, dando a entender que Menezes estava indeciso entre as duas crenças, preferindo misturá-las, resultando numa quizumba doida que nem merecia ser rotulada. Mas que pode ser entendida como Espiritolicismo, esta forma doida de Espiritismo, sincrética e confusa. Vamos ao texto:
"Agora que V. já conhece as minhas idéias, vou dizer-lhe o meu credo. Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra. Creio em Jesus Cristo, seu dileto Filho, Nosso Senhor e Redentor. Creio que a Igreja foi instituída por Ele para ensinar sua santa doutrina e que é assistida pelo Espírito Santo nesse santíssimo mister. Creio na comunhão dos Santos, na ressurreição da carne, na vida eterna.
Não creio na lenda dos anjos decaídos, porque crer nisso valeria por negar a onipotência e a onisciência do Senhor. Não creio que o mal possa triunfar do bem, eternizando-se, como este, no reino de Satanás. Não creio que um espírito criado pelo Senhor possa fazer-lhe frente, resistir-lhe e destruir-lhe os planos e nem que o Senhor permita isso, servindo-se do rebelde para castigar o rebelde, porque, nesse caso, Deus não criou o homem para o bem, para a felicidade.
Não creio na 'vida única, porque o homem é perfectível. Não creio nas penas eternas, porque Deus é pai. Não creio na infalibilidade do papa, porque assim teríamos um Deus no Céu e outro na Terra. E a comunicação dos santos significa, para mim, a comunicação dos espíritos. E a ressurreição da carne significa a reencarnação dos espíritos. Eis o meu credo e digo-lhe: que tenho fé viva e esperança firme de subir com ele à sociedade de Deus na eternidade."
É esse o pensamento do suposto "Apóstolo do Espiritismo"? Que texto confuso, fortemente catolizado, excessivamente passional e em nada racional. É uma ingenuidade achar que Bezerra de Menezes represente melhor o Espiritismo do que Angeli Torteroli, com quem teve uma intensa divergência, já que o italiano, radicado no Brasil estava disposto a ser fel a Doutrina Espírita como ela surgiu, o que foi definitivamente arruinado por Bezerra de Menezes.
Bezerra, católico fiel, preferiu o sincretismo irresponsável que impediu a evolução espiritual de muitos seguidores da versão brasileira da doutrina, travando o desenvolvimento intelectual em favor de uma fé cega que favorece a intromissão de espíritos de índole duvidosa como os que escreveram através do ingênuo médium mineiro tido erroneamente como "pastor" desse rebanho de ingênuos.
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