Os espíritas místicos, que predominam em nosso país, acreditam que estamos em tempos de grandes transformações e não cansam de nos lembrar disso. Se baseiam em muitas teses místicas, sobretudo a de Ramatis, infiltradas na doutrina e defendidas por vários palestrantes espíritas, sobretudo o ultra-prestigiado Divaldo Franco.
Se observarmos em especial o que está acontecendo com o Brasil, onde testemunhamos uma versão "digitalizada" e "remixada" do Milagre Econômico do início dos anos 70 (época em que eu nasci) e associarmos, além da tese da "Era de Aquarius", também conhecida como "Terceiro Milênio", com o conteúdo do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, supostamente psicografado por Chico Xavier e atribuído ao espírito de Humberto de Campos, teremos um gigantesco banquete a saciar a fome ilusória de quem acredita que vivemos num país privilegiado.
O Brasil, hoje se encontra na condição de quintal do mundo. O que significa isso. Nos assuntos relativos a consumismo e lazer, o país ganhou, nestes últimos anos, um destaque mundial, se tornando referência do divertimento mundial, reforçando ainda mais a vocação turística. Os grandes eventos a ocorrer nos próximos anos servem ainda mais para cerejar esta onda do ufanismo lúdico. Mas isso é tudo? É o suficientepara classificar nossa nação como próspera?
Certamente que não. Pode até estar sendo um engodo para compensar a não prosperidade real que sempre é adiada em setores mais essenciais. Ainda vivemos com má distribuição da riqueza, os problemas cotidianos ainda não dão sinais que poderão acabar e as obras feitas já começam a dar sinais de que não passam de simples maquiagem feita para agradar quem for aos grandes eventos de 2014 e 2016. Eventos de lazer puro, diga-se de passagem.
Mas para quem tem o senso crítico atrofiado e não tem o hábito de questionar e muito menos discernir, como muitos espíritólicos (nome dado aos espíritas místicos), basta o progresso do lazer e da emotividade que o resto vem como anexo. Simples. Desenvolve materialmente o lazer e espiritualmente a moral, que os assuntos sérios serão resolvidos de maneira complementar.
O destaque que o país vem tendo na área do entretenimento, estão servindo como uma espécie de "confirmação" de que o famoso livro psicografado por Xavier em nome de Humberto de Campos, esteja certo. Pois há um fascínio brilhante para os olhos incautos em ver o país sendo destacado perante a população mundial, mesmo sendo em um ramo bastante fútil e que nada de concreto trará de melhorias a população. Talvez o contrário, já que os gastos imensos com estas obras supérfluas, possam comprometer os gastos com serviços essenciais. Aliás, já estão comprometendo.
As melhorias de fachada feitas convencem os seus defensores, já que, indispostos a raciocinar, preferem acreditar cegamente nos argumentos das autoridades, que tradicionalmente nunca pensaram e prol da população e não é agora que irão passar. Além disso, é muito fácil acreditar em melhorias que aparecem, mesmo que sejam falsas.
Isso tudo somado a crença de que chegamos na "Nova Era", exalta ainda mais os ânimos dos fanáticos, que se deliciam com êxtase imensurável , ao perceber a "confirmação" da hipótética hipótese do Brasil como a "país do futuro", que prospera através da diversão (leia-se fuga dos problemas).
É triste saber que esta onda otimista de que somos a nação privilegiada poderá render gigantescas decepções, daquelas de impulsionar depressões e até atos de suicídio, pois o que vemos na aparência, é naturalmente e discretamente desmentidas pelo cotidiano. Que a prosperidade ainda não chegou e muito menos a "Nova Era", já que Kardec havia nos alertado que a evolução espiritual, além de depender do intelecto (tão inerte nas mentes dos queridos brasileiros), é lenta, gradual e não tem hora nem data marcadas.
Toda essa magia de contos de fadas que acontece com o nosso país é uma perfeita ilusão que fará com que nós acordemos nos próximos anos, como a Gata Borralheira da historinha, vendo BRT virar abóbora, jogadores de futebol virarem sapos e os grandes espíritos mensageiros reduzidos à meros fantasmas, habitantes de cemitério, com o nosso país em ruínas, já que preferimos brincar no grande parquinho de diversões enquanto os problemas se acumulavam longe de nossos iludidos olhos.
Não há coincidência nenhuma, o país não está próspero, consumismo não é qualidade de vida, ser o melhor no futebol não significa nada, e toda esta pompa é ludibriagem pura, que não serve para dar dignidade a um povo eternamente sofrido e que enquanto não se educar adequadamente, vai continuar "feliz" com a migalha de ouro que for jogada diante de seus míopes olhos.
A propósito: o livro de Xavier está erradíssimo, tem erros grosseiros de fatos históricos, é tendencioso e completamente inútil para a evolução da humanidade brasileira. Não existe país "escolhido" e a nossa condição de "brasileiros" é transitória (enquanto estivermos encarnados por aqui - portanto, nada de patriotada). "Nova Era" não existe e ainda teremos que penar muitos milênios para conhecermos a verdadeira prosperidade, que não virá tão cedo.
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