Mas não somente fatos, mas o próprio repertório dogmático da doutrina, recheado de moralismo medieval - tradicionalmente presente entre os neo-pentecostais - revela que isso não é verdade. O desconhecimento do que é de fato o "Espiritismo" brasileiro, longe de estereótipos, mostra que é uma religião de direita, elitista, moralista e que usa a caridade para se promover e para criar um escudo que protege de críticas.
O assumido direitismo mostrado por Chico Xavier nos anos 70 e recentemente por Divaldo Franco, surpreendeu seguidores, mas não deveria por estar de acordo com o moralismo defendido e do fato de que a maioria dos que se assumem "espíritas" são de classe média alta e portadores de diplomas de nível superior. Ou seja, uma elite muito bem abastada, sem as preocupações sociais esperadas.
A defesa desta classe e a necessidade de usar a caridade para se proteger de críticas e para se promover como liderança respeitável diante da humanidade, faz com que as lideranças "espíritas" se oponham a ideais de esquerda, seja quais nomes possam se apresentar.
Imaginemos a esquerda no poder, tirando pobres da miséria e tornando dispensável a caridade religiosa? Sem a necessidade de caridade, ela deixa de existir e a doutrina perde não somente uma imensa forma de propaganda e atração de adeptos, como perde a proteção contra críticas por ter um repertório dogmático tão contraditório e conservador.
Imagine o Divaldo Franco sem a sua atividade filantrópica? Ninguém sairia em defesa dele por causa das asneiras que diz - ele é falso médium, um vigarista, um charlatão, como alertava Herculano Pires - já que ninguém poderia dizer "mas ele ajudava muita gente".
Chico Xavier, mesmo vomitando impropérios em suas entrevistas, principalmente na famosa dada ao programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, continua até hoje defendido. Mesmo os que assumem que ele era outro charlatão, usam a suposta bondade dele, além da caridade fajuta que nunca tirou os pobres de sua condição humilhante, como justificativa de sua incurável admiração.
As lideranças "espíritas" morrem de medo das justiças sociais. Sem a imagem de caridosos, perdem o poder de sedução e também uma grande parcela de seguidores , que enxergam neles os missionários a tirar toda a humanidade da miséria e instaurar a justiça social e - pasmem - acabar com os problemas gerados pelo Capitalismo, como se a Teologia da Libertação fizesse parte dos dogmas 'espíritas". Não faz.
Por isso o combate radical contra o esquerdismo. É de interesse das lideranças "espíritas" que as injustiças e a miséria continuem para que se possam se promover com elas. Afinal, quem lucra com a solução de problemas, lucra também com os problemas. É preciso que problemas existam para se vender a solução. Se os problemas acabarem...
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