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O perigoso "bombardeio de amor" que protege os "médiuns" deturpadores do Espiritismo

O Brasil tem um hábito muito perigoso que é o de aceitar certas armadilhas como se fossem coisas boas, e muitas pessoas aceitam a ponto de se irritarem quando são informadas de tão graves ardis. País relativamente jovem, o Brasil não experimentou os prejuízos que o mundo desenvolvido já vivenciou, e isso faz com que certas ciladas sejam vistas como a "salvação da lavoura".

Temos um suposto Espiritismo que nem de longe lembra a sobriedade racional de Allan Kardec. Nota-se que, da forma que foi feita no Brasil, a Doutrina Espírita foi rebaixada a uma versão repaginada do Catolicismo medieval, e se houve a recuperação doutrinária, ela não se remete à Codificação lançada na França em 1857, mas ao Catolicismo dos jesuítas que vigorou no período colonial brasileiro.

Isso é tão certo que um dos jesuítas, o padre Manuel da Nóbrega, foi evocado para comandar o "espiritismo à brasileira" pelo católico ortodoxo Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier, e aclamado o maior astro desse "espiritismo" que cresceu deturpado. Nunca o projeto original de J. B. Roustaing encontrou terreno tão fértil quanto o Brasil.

Pior: como o Brasil vive seus tradicionais cacoetes como o jeitinho brasileiro, a memória curta e a confusão entre contradição e equilíbrio, além da mania terrível de um pragmatismo simplório - aquele papo de que "não é aquela maravilha, mas já está bom demais" - , a deturpação do Espiritismo se prosperou sob a desculpa hipócrita de "manter a fidelidade absoluta ao legado de Kardec".

Isso é mentira descarada, como a quase totalidade das obras "mediúnicas" que se revelam fake porque uma leitura atenta sempre identifica aspectos estranhos à natureza pessoal do respectivo morto a que se atribui autoria espiritual. Essa estranheza é deixada para lá, por um motivo que é muito comum e que se torna a mais perigosa armadilha usada pelo "movimento espírita": o BOMBARDEIO DE AMOR.

MANCENILHEIRA DE IDEIAS

O Brasil demonstrou, desde o último golpe de 2016 - apoiado com gosto pelos "espíritas", para desespero de setores das esquerdas que apreciam essa religião - , uma completa e preocupante desinformação das coisas. As redes sociais viraram um reduto de estupidez, burrice, preconceitos sociais e tudo isso vindo até de pessoas antes consideradas "tarimbadas" e acima de toda suspeita.

Com essa situação, como explicar o perigo que é falar demais em "paz" e "fraternidade" num contexto de mistificação religiosa ou como é traiçoeiro apelar para um excesso de emotividade e de simulacros de afeto? Como estimular a comoção humana não pode ser, de outro modo, um processo perverso de dominação e manipulação das pessoas?

Há um tipo de árvore venenosa que inspira a metáfora desses venenos emotivos que cercam o "espiritismo". É a mancenilheira, árvore que não existe no Brasil, mas existe na Flórida, Venezuela e outras partes do mundo. A árvore é muito bonita, seus frutos têm um sabor delicioso, mas seu veneno mortal é tão grave que basta um toque nela para contrair queimaduras graves.

A seiva contém substâncias que, em contato com os olhos, provocam cegueira, e podem levar a pessoa à morte no contato com qualquer parte do corpo. As frutas podem provocar problemas gastro-intestinais que podem ter consequências fatais.

No "espiritismo" brasileiro, são constantes as maldições que atingem pessoas que entram em contato com a doutrina igrejeira, perdendo entes queridos sem necessidade e interrompendo projetos de vida por infortúnios surgidos do nada. Muitos reclamam que o contato com o "espiritismo" os faz mais vulneráveis a serem vítimas de assaltos ou de ofensas pesadas nas redes sociais. E não é por falta de oração, fé ou energias positivas por parte dessas pessoas.

Pode parecer cruel e muitos não conseguem mesmo entender por que o "espiritismo" tornou-se uma religião amaldiçoada. Parece papo de evangélico neopentecostal, mas é uma realidade: o fato do "espiritismo" brasileiro se fundamentar nas traições doutrinárias ao legado de Allan Kardec, ao sucumbir ao legado católico do Brasil-colônia, a doutrina é a que mais atrai energias maléficas que contaminam até mesmo quem acredita estar possuindo as mais elevadas energias vibratórias.

Aí entra as armadilhas traiçoeiras que protegem a deturpação e os deturpadores - sobretudo os "médiuns", conhecidos como anti-médiuns porque perderam a função intermediária, viraram subcelebridades e vivem do culto à personalidade.

Essas armadilhas vêm justamente naquilo em que a maioria dos brasileiros entende como "positivo" e "saudável": o apelo excessivo à emoção e à comoção pública, através de pregações aparentes pela paz e pela fraternidade, e toda uma evocação de imagens maravilhosas: jardins floridos, céu azul com Sol e nuvens brancas, crianças sorridentes, poesias amorosas etc.

O apelo emocional excessivo, que chega a ser uma pegadinha que, de maneira perigosa, desarma até muitos dos esforçados críticos da deturpação, é resultante de um processo considerado falacioso pelos especialistas mais sérios, e que aqui chega sem desconfiança: o Argumentum Ad Passiones, ou apenas Ad Passiones, a estratégia do "apelo à emoção".

No "espiritismo", o Ad Passiones, recurso usado por Chico Xavier para dominar a sociedade brasileira, e depois se tornando a chave da doutrina igrejista, chega na sua forma mais perigosa, o "bombardeio de amor", uma ideia praticamente desconhecida pelos brasileiros, de forma que muitos chegam a perguntar, "se bombardeio de amor é coisa ruim, então não sei mais o que é bom na vida".

Pois o bombardeio de amor - do inglês, love bombing - é conhecido como um recurso falacioso dos mais perigosos. É uma estratégia que envolve apelos emocionais mais fortes, como uma trilha sonora musical mais relaxante e comovente e um clima, nas "casas espíritas", de suposta intimidade e um acolhimento excessivamente fraterno que destoa até dos processos sociais normais, quando desconhecidos iniciam uma amizade. A overdose de emotividade, vista como virtude sublime, é, na verdade, um perigo dos mais traiçoeiros, que pode confundir e atrofiar a razão humana.

Esse excesso de afeição é que é um processo de dominação. Raciocinemos um pouco. Se em muitas famílias não há um clima razoável de fraternidade, por que estranhos se aproximam de alguém como se tivessem sido "saudosos amigos de infância"? Em se tratando de instituições religiosas, não só as "espíritas", mas qualquer outra que usar dessa estratégia, o excesso de emotividade e de afeto são meios de atrair fiéis e dominá-los, mas ninguém desconfia disso, e é muito fácil um estranho manipular as pessoas com esse método tão envolvente.

NÃO É INTOLERÂNCIA: ALLAN KARDEC HAVIA PREVENIDO

Em várias passagens, sobretudo em O Livro dos Médiuns, o pedagogo francês havia prevenido sobre processos obsessivos como a fascinação e a subjugação. Muitos imaginam que os espíritos inferiores que apelam para tais obsessões são claramente levianos, falam como se fossem vilões de desenhos animados e usam de um discurso claramente perverso.

Nada disso. Há muito, citando em metáfora, que o inferno passou a ter a aparência do paraíso e os demônios reproduzem, com aparente fidelidade, o timbre e o tom manso dos anjos. Os deturpadores do "espiritismo" usam os discursos de "paz" e "fraternidade" como um meio de dominar as pessoas e inserir ideias levianas e contrárias aos postulados espíritas originais.

O discurso falacioso é tão engenhoso que, aparentemente, se tornou possível trair o legado original de Kardec e, ao mesmo tempo, dar a impressão de que se cumpre rigorosamente a fidelidade a esse mesmo legado.

Os apelos emocionais, sobretudo através de Chico Xavier e o entretenimento das sessões "mediúnicas", em "casas espíritas" lotadas de fiéis, mediante a cobertura mais leviana da imprensa sensacionalista - que, de vez em quando, adora espetáculos de devoção religiosa - e produzindo ambientes de energias pesadas, marcadas pelo transe, pela ansiedade, pelo desespero, tristeza e até pela falsidade (as mensagens "espirituais" se revelam fake, conforme muitos casos comprovaram, como a ausência da assinatura pessoal de cada morto), são uma estratégia que obteve, infelizmente, muito êxito no Brasil.

O "bombardeio de amor" foi tanto que Chico Xavier, na verdade um direitista ranzinza, reacionário e dos mais retrógrados, conseguiu seduzir até mesmo setores das esquerdas, que nem de longe desconfiaram que o "médium" havia defendido a ditadura militar na sua fase mais repressiva, enquanto muitos direitistas convictos haviam passado para a oposição.

O excesso de emotividade acabou sendo o escudo dos "médiuns" deturpadores, que podem inserir conceitos igrejeiros e desnortear as mentes das pessoas, criando confusões imensas e perdas de discernimento em muita gente. Basta se servirem de apelos emocionais, de "mensagens de paz", de cenários floridos e ensolarados, ou paisagens cósmicas para supor sabedoria, e os "médiuns" podem ter o mundo a seus pés.

Que oportunidade um Olavo de Carvalho perdeu. Se ele falasse com os mortos, adotasse um discurso manso e palavras suaves, esconder o ódio na sua mente e falar só em paz e fraternidade, o astrólogo e dublê de filósofo, com todo o seu ultradireitismo, poderia até ter as esquerdas a seus pés. 

A blindagem que os "médiuns espíritas" possuem é tanta que houve até mesmo uma "paranormalidade à avessa". Se havia fenômenos em que mortos eram vistos andando como se fossem pessoas vivas, passou-se a haver fenômenos em que vivos se tornam "invisíveis": no caso da "farinata", um duvidoso alimento lançado pelo prefeito de São Paulo, João Dória Jr., Divaldo Franco foi o anfitrião do evento que o lançou e estava presente até em fotos divulgadas pelo governante municipal. 

Mas não se falou, oficialmente, uma palavra que fosse para questionar o valor de Divaldo, inocentado por algo que, normalmente, deveria ser visto como uma grave responsabilidade. Divaldo, com a edição paulista do Você e a Paz, decidiu abrir espaço para a "farinata", sem exigir documentos de perícia técnica e outros cuidados (como deveria ser), e tem que ser responsabilizado por apoiar um político decadente, como Dória, e permitir um alimento condenado por nutricionistas, sanitaristas e ativistas sociais. 

Divaldo cometeu até uma gafe porque, tido como "humanista" e "sábio", deixou que se lançasse um alimento que era considerado como "ofensa à dignidade humana" e do qual não havia informações nutricionais conhecidas. Cadê os espíritos benfeitores para prevenir o "médium" do embuste que se tornou o alimento, depois descartado ao sofrer repercussão negativa?

Mas Divaldo foi poupado porque os "médiuns" são envoltos em uma aura de emotividade que os faz serem vistos como "fadas-madrinhas" da vida real. Pessoas vistas como "puras" e "inocentes" e que, por isso, só são responsabilizados pelos acertos e nunca pelos erros. Essa ideia, cheia de contradições e equívocos da mais extrema gravidade, é que poupa os "médiuns" que deturpam o Espiritismo de modo que muitos acreditam que se pode aproveitá-los num esforço de recuperação das bases doutrinárias originais.

Aí se imagina. Reaproveitar Chico Xavier e Divaldo Franco num processo de recuperação das bases originais da Codificação? Isso é como chamar as raposas para reconstruir um galinheiro. Mas esse absurdo se é permitido porque as pessoas estão tomadas pela overdose de emoção, tomadas pelas paixões religiosas e refletindo sentimentos obsessivos como fascinação e subjugação que os fazem estarem apegadas, de forma bastante doentia, aos "médiuns espíritas", sacerdotes medievais sem batina que, de maneira preocupante, conseguem dominar e escravizar o inconsciente das pessoas.

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