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"Espíritismo" apela como suposto remédio contra o suicídio

Quase no fim da linha diante de uma severa crise, o "movimento espírita" agora lança um derradeiro apelo, depois que não pôde convencer as pessoas da sua postura dúbia em jurar "rigorosa fidelidade" a Allan Kardec e apoiar os deturpadores.

O apelo agora consiste na defesa da doutrina como um suposto remédio contra o suicídio. Sem conseguir explicar suas contradições doutrinárias, o "espiritismo" brasileiro investe nesse recurso, depois que o bom-mocismo que dissimulava a deturpação doutrinária foi desmascarado.

A ideia é defender que a doutrina brasileira, por pregar, em tese, princípios de esperança e de vida melhor, previne o suicídio, e, como é uma seita que, teoricamente, expressa o conhecimento do "outro lado" (a vida espiritual), seus defensores e seguidores alegam conhecer o mundo dos espíritos e falar num hipotético "Vale dos Suicidas" para o qual vão os "infelizes" que decidem tirar as próprias vidas.

De um lado, recados de suposto otimismo, pretensas receitas para uma vida melhor, dicas para superar as dificuldades sem que elas mesmas sejam totalmente superadas. Se alguém tem um grande potencial e um excelente projeto de vida, continuará impedido de realizá-la, mas pode emprestar suas qualidades a um patrão medíocre que precisa de autopromoção e, por isso, acha ótimo ter um subordinado mais inteligente do que ele.

De outro, pregações moralistas tipo as que, nas velhas famílias, as mães falavam. Quem não se lembra de avisos do tipo "Cuidado com o homem do saco, que carrega toda criança que vê na rua e leva para longe"? Se o "espírita" não for bonzinho e não se comportar de maneira alegre e feliz, vai sofrer no "umbral" e ficar se afogando na areia movediça do Vale dos Suicidas.

Blogues "espíritas", palestras, livros, tudo agora tenta fazer-nos crer que o "espiritismo" é a "doutrina contra o suicídio". Antes era a "doutrina da bondade", mas como a figura finantrópica de Francisco Cândido Xavier revelou-se uma farsa montada pela Rede Globo da mesma forma que Malcolm Muggeridge forjou para Madre Teresa de Calcutá, o "espiritismo" agora é a "doutrina da salvação contra o suicídio".

Só que graves contradições ainda assombram os meios "espíritas", já que eles permitem e apoiam para que elas acontecem. Se a doutrina surgiu como um remendo ideológico que misturou Catolicismo medieval com feitiçaria, esoterismo e curandeirismo de fundo-de-quintal para compensar o desprezo não-assumido mas real por Allan Kardec, então essas contradições não largam do pé dos "espíritas".

TEOLOGIA DO SOFRIMENTO LEGITIMA MALES QUE LEVAM AO SUICÍDIO

Dessa forma, temos uma coisa que poucos conseguem perceber. O "espiritismo" defende a Teologia do Sofrimento, conceito tomado de empréstimo do Catolicismo a partir do próprio Chico Xavier, que era devoto de santos católicos e, tido como "espiritualizado", se apegava a imagens de santos e conversava com elas como se fossem pessoas.

A Teologia do Sofrimento foi popularizada pela freira Teresa de Lisieux. Consistia em uma interpretação distorcida do martírio final de Jesus de Nazaré e definir o sofrimento como algo bonito por si só e, por isso, defender que a vida seja um rol de sofrimentos e infortúnios a serem enfrentados em troca de "bênçãos futuras".

Como uma espécie de "taylorismo" da religião - já que a doutrina administrativa do neoliberal Frederick Taylor consistia no proletariado trabalhar de forma opressiva em troca de vantagens trabalhistas que depois se revelaram pequenas - , a Teologia do Sofrimento consistia no indivíduo ter que sofrer as piores coisas em sua vida para ser "beneficiado" mais tarde, geralmente após a morte.

Desse modo, sofre-se demais esperando que o "porvir" lhe traga as "graças prometidas". No Catolicismo, a Teologia do Sofrimento oferece como "prêmio" os benefícios da "vida eterna". O "movimento espírita" usa como jargão a "vida futura".

Bom lembrar que a Teologia do Sofrimento entrou no "espiritismo" através de Jean Baptiste Roustaing, que defendia que a reencarnação só serve para gerar sofrimento, criando um maniqueísmo absurdo entre vida na carne (má) e vida espiritual (boa). Ignoram que o reencarne e a vida pós morte são etapas da mesma vida, igualmente úteis.

No "espiritismo", o sofrimento é bem mais cruel. Nada de imitar um Jesus gritando com a dor do flagelo da cruz. Nada de orar desesperadamente, aos gritos suplicantes. A ideia é sofrer calado, sofrer "amando" e sorrindo feito um débil-mental, e até para orar tem que se fazer em silêncio, para que o sossego dos opressores não seja perturbado. Afinal, nossos algozes precisam se sentar no sofá, para ver o jornal do dia em seus tablets, já têm perturbações demais pelas más notícias diárias que leem.

O pobre coitado não pode se queixar, não pode questionar coisa alguma, se ele sofre infortúnios, ele que aceite e acredite numa "vida melhor" que ele não tem ideia do que é e nem do que se trata. Se o pobre coitado sonha em ser cientista e tem até habilidades e vocação para isso, e as circunstâncias sempre o impedem de desempenhar esse potencial, ele que se contente em encarar a "química dos detergentes" enquanto lava os pratos para um patrão mais imbecil.

INTOLERÂNCIA À NÃO-CRENÇA EM DEUS

A Teologia do Sofrimento, aliada a um moralismo "espírita" que reprova o suicídio, cria problemas severos que fazem com que, mais uma vez, o caráter assistencial do "espiritismo" brasileiro seja posto em xeque. Vejamos:

1) O "espiritismo" criminaliza o suicídio. Seu moralismo o trata como um crime hediondo. A moral "espírita" chega a definir o suicídio como pior do que o homicídio (apesar desse ser um ato extremo e irreparável do egoísmo humano), porque este é visto como suposto instrumento de reajustes espirituais contra a vítima, sob o pretexto de "reparar faltas passadas".

2) Defendendo a Teologia do Sofrimento (passar a vida sofrendo horrores em prol dos benefícios da "vida futura"), o "espiritismo" acaba legitimando o suicídio, porque, embora rejeite essa prática extrema, ao defender que a pessoa suporte os males da vida sem se queixar e pouco ou nada agindo contra os mesmos, concorda com as condições que constantemente levam a pessoa a se suicidar.

Outro aspecto problemático é quanto à intolerância à não-crença em Deus. O moralismo "espírita" se volta sobretudo ao ateísmo, "demonizado" pelo "espiritismo" brasileiro como uma "doutrina" que induz as pessoas ao suicídio.

A negação da existência de Deus é então vista como uma "doença" na qual o desprezo da ideia de haver um Criador é tido como sinônimo de falta de esperança e de "vazio existencial", que os "espíritas" atribuem como pretexto para as pessoas se suicidarem.

Recentemente, o palestrante "espírita", Richard Simonetti, amaldiçoou o cientista Richard Dawkins, conhecido ateu inglês, dizendo que ele "irá se arrepender" pelo seu ateísmo. Tentou fazer crer que o ateísmo "faz mal" porque, tirando a esperança das pessoas, as empurra para o suicídio, quando sabemos que tirar a própria vida não tem qualquer tipo de relação com religião ou falta de religião.

Diante dessa visão preconceituosa, os "espíritas", além de acreditarem em hipotéticos infernos como o "umbral", abordagem materialista, semelhante à da literatura de terror, também estabelecem discriminação diante de pessoas que não aceitam a supremacia de um ser antropomorfizado chamado Deus, se recusando a admitir uma hierarquia existencial dos seres e coisas de acordo com dogmas moralistas, consagrados pela Igreja Católica que inspirou o "espiritismo" brasileiro.

Assim, o "espiritismo", que na sua crise tanto fala que é "vítima de intolerância religiosa", pratica uma intolerância pior, a contra os ateus, sempre "demonizados" à maneira dos "espíritas", no costumeiro esquema "morde-e-assopra" que acusa os outros de desgraçados e depois pede misericórdia a eles.

Ignoram os "espíritas" que os ateus, em muitas vezes, compensam a não-crença em Deus com a ocupação em suas próprias tarefas. Dispensada a idolatria ao hipotético "velhinho de barba", espécie de "Papai Noel dos adultos", os ateus se entregam mais ao trabalho, desenvolvem auto-confiança e buscam um altruísmo espontâneo que, em qualidade, ganha muito do altruísmo forçado que o moralismo religioso, ameaçador e intimidador, impõe a seus crentes.

Vide o caso de um Paulo Freire, educador brasileiro que fez um projeto de caridade que deixa Chico Xavier comendo poeira até tossir. Com um simples projeto educacional, de alfabetização de adultos, Freire, pedagogo como havia sido Allan Kardec, estabeleceu um sistema múltiplo que estabelecia a solidariedade comunitária, a diversidade sócio-cultural, o ativismo político, a compreensão do mundo em volta, as boas fala e escrita aliadas ao pensamento questionador e até a prática de Jornalismo.

Ou seja, em muitos casos, os ateus trabalham e agem em favor do próximo, enquanto os religiosos perdem tempo na idolatria a um hipotético ser do qual juram existência certa, embora não haja estudos científicos confiáveis que possam realmente dizer se Deus existe ou não ou se ele é uma energia fluídica ou um homem desencarnado. Até os "espíritas" pensarem em fazer algo que lhes soe transformador, o ateu já realizou mudanças profundas na sociedade.

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