Por Senhor dos Anéis
Infelizmente, as boas intenções do pedagogo Leon Rivail, conhecido como Allan Kardec, foram totalmente desvirtuadas pelo Catolicismo redivivo que veio a se constituir no Espiritismo brasileiro.
Infelizmente, as boas intenções do pedagogo Leon Rivail, conhecido como Allan Kardec, foram totalmente desvirtuadas pelo Catolicismo redivivo que veio a se constituir no Espiritismo brasileiro.
Já na França, quando a política era submetida aos valores da Igreja Católica, Kardec já sentia o peso de suas lições, ideias e projetos serem postos à margem. Mesmo seus aliados passaram a assumir seu legado, depois da morte do pedagogo, de maneira tão moderada que a essência científica das descobertas espíritas se diluiu para um religiosismo moralista que aumentou feito uma bola de neve.
No Brasil, marcado pelo medievalismo dos jesuítas e pela herança do Catolicismo de Portugal que, mesmo depois do impacto da Revolução Francesa, ainda mandava queimar hereges em praça pública, o Espiritismo já começou distorcido, para não desagradar as lideranças católicas do país.
Se as lições do professor Kardec se tornaram parcialmente apreciadas - apenas ideias genéricas como a vida após a morte e a reencarnação - , a coisa piorou mais ainda quando um intruso, o advogado francês Jean-Baptiste Roustaing, foi fazer Doutrina Espírita de acordo com seu umbigo católico e brindou o país com ideias alucinadas e alucinantes.
Aí, durante um bom tempo, o que se entende como "doutrina espírita" no Brasil passou a incluir um Jesus Cristo fluídico que nunca passou de um fantasma materializado, que não sofreu as dores que teve, principalmente quando era crucificado. Não bastasse isso, Roustaing ainda trouxe a ameaça de que viraríamos lesmas e vermes se não nos comportarmos direitinho na encarnação presente.
Mas isso é pinto. O que veio a reboque do "espiritismo" brasileiro foi muito pior do que os delírios de Roustaing, porque estes poderiam ser combatidos com um argumento mais lógico. O que veio a reboque, a partir do médico Adolfo Bezerra de Menezes - que todo mundo esqueceu que não era mais do que um "típico político do PMDB" no Segundo Império - foi osso duro de roer.
Vieram ritos católicos travestidos de "espíritas", desde a "água fluidificada" (ou água benta?) até o "auxílio fraterno" (ou confessionário?), valores moralistas tipicamente católicos que, contrariando as condições materiais das encarnações, transformam a instituição Família em clãs espirituais fixos e permanentes, num claro sinal de materialismo hierárquico.
A ciência só aparece se for para comprovar absurdos e não questionar os dogmas, ritos e fantasias que o "espiritismo" brasileiro transmite. Se, por exemplo, os "espíritas" falam em "zoológico do além", a Zoologia só é bem-vinda quando corrobora todo tipo de fantasia. Se arrisca a questioná-la, é rebaixada a "julgamento terreno dos homens sob a ótica da matéria".
Os supostos "médiuns" só fazem aumentar a bagunça, escrevendo tudo de sua própria imaginação e atribuindo os nomes aos mortos de sua escolha. Mensagens "espirituais" iguaizinhas, com as caligrafias apenas dos "médiuns", não passam de propagandismo religioso, tendo até mershandising e tudo o mais.
E o que isso atrai? Espíritos puros da mais elevada condição moral? Espíritos dotados tanto de profunda inteligência e caráter grandioso? Nem em sonhos! O que atrai são espíritos brincalhões e até perversos que veem nesse carnaval da falsidade ideológica um recreio para seus instintos enganadores e exploradores.
Até quando há tragédias, os "espíritas" usam o pretexto da "vida após a morte" para justificar seu julgamento desumano. Relativizando a culpa dos algozes, concentram-se na condenação das vítimas cujas tragédias são "explicadas" pela alegação de "reajustes espirituais".
O "espiritismo", dessa forma, acaba se nivelando ao pior coronelismo dos latifundiários, e de repente qualquer algoz, canalha e crápula que agir contra o próximo é "inocentado" porque seus erros individuais, mesmo os movidos pela impulsividade egoísta, são amenizados porque seguem "princípios de reajustes espirituais".
A "turminha trevosa" faz a festa. E todos se juntam aos "centros espíritas", se apegam aos "médiuns", e intuem até mesmo na produção de obras supérfluas, que no entanto fazem muitos leitores se apegarem às supostas "lições de amor" nelas escritas.
As pessoas acabam aceitando os piores sofrimentos e atraindo todo tipo de infortúnio. E são forçadas pelo "espiritismo" brasileiro a aceitarem felizes até a pior tortura, a perda desnecessária dos melhores amigos, parentes e cônjuges e acreditar que tudo isso ficará superado numa "vida futura" que ninguém sabe quando ocorrerá.
Claro, pimenta nos olhos dos outros é refresco, e não é o "astro" do "espiritismo" que perderá, ao menos prematuramente, o melhor amigo, a mais bela namorada ou aquele melhor confidente, mas o do seu fiel seguidor que se dirige a essa seita com fidelidade canina e vontade bovina.
Isso acaba atraindo espíritos traiçoeiros que haviam agido no Catolicismo medieval e que, agora, tentam reciclar a religião do imperador romano Constantino com algumas pequenas alterações, como o arremedo de ciência, a reencarnação e a vida espiritual.
Mas, de resto, é o mesmo Catolicismo Apostólico Romano que hoje tenta se esconder sob as calças do professor Rivail. E é justamente ele, lá do além, que tem seu nome posto na conta de todos os abusos e erros, muitos gravíssimos, cometidos pelos "espiritas" brasileiros. Infelizmente.
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