Um grupo de pessoas vem trabalhando incessantemente na tentativa de devolver o caráter científico à Doutrina Espírita, tão esquecido em nosso país, substituído por uma pieguice mística que atrapalha toda a compreensão das lições de Kardec. Louvável essa iniciativa.
Mas parte deste grupo, vem demonstrando a adoção de uma atitude do tipo "oito ou oitenta", achando que para livrar da pieguice, deve se eliminar o caráter emotivo e religioso da doutrina, hermetificando como se o Espiritismo fosse feito de chumbo. São indivíduos que usando a insensibilidade e - pasmem! - o egoísmo, acabam estragando a doutrina tanto quanto os piegas místicos. Não dá para ter equilíbrio, não?
Essa turma portadora de corações de chumbo chega, às vezes a desdenhar a caridade, se esquecendo que este é pilar mais importante da doutrina codificada por Kardec. E não sou eu que digo isso e sim o próprio Kardec, que transformou em lema a frase "Fora da caridade não há salvação".
Nesta semana tive uma discussão feia (mais uma...) com alguns membros de uma comunidade que recuperava o teor científico do Espiritismo que defenderam o Capitalismo. Não vou entrar em detalhes, mas não é preciso ser cientista e nem irmã de caridade para saber que o Capitalismo é, por suas próprias regras, um sistema excludente, humilhante, cruel, corrupto, injusto e bastante enganador, onde a vida de empresas é mais importante que a vida de seres humanos e o (excessivo) lucro financeiro é sempre o objetivo final. Ou seja, o oposto da caridade kardeciana. Cadê a coerência dessa gente, metida a ser tão racional?
Creio que o excesso de racionalismo, talvez por revolta ao excesso de pieguice dos espiritólicos, tenha secado o coração dessa gente que, no desespero, quis tirar de Kardec a tão mencionada caridade, base importante da Doutrina Espírita. Se esquecem que Kardec era emotivo, alegre, que era casado, que sofreu no fim da vida abandonado por quem não entendeu a nova doutrina que codificara e que falou em Lei de Amor em várias vezes em suas obras! Espiritismo não é pieguice, mas também não é insensibilidade. Dá para ser científico amando as outras pessoas.
Até porque a ciência de Kardec era humana. Kardec não ficava trancado em laboratórios misturando líquidos em tubos de ensaio. Seus instrumentos de trabalho eram as pessoas, médiuns, observadores, estudiosos e pessoas que serviam de contato para todos estes. Aliás, Kardec era um educador, e seu objeto de pesquisa eram as pessoas. Não dá para ser insensível trabalhando desta maneira!
Por isso mesmo digo que vamos sim, tirar toda a fantasia infantil que enxertaram no Espiritismo brasileiro, importado de outras crenças, nada científicas. Mas vamos manter a emotividade, o amor ao próximo, a alegria e o prazer de ver no outro alguém que merece a felicidade, através de um mundo mais justo e caridoso, onde um simples bom dia dado no elevador consegue mudar o destino de quem ouve.
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