As esquerdas se comportam como aquele loser que, só porque a moça mais desejada da escola se dirigiu a ele para dar bom dia, ele acha que ela está apaixonada por ele. Em certos aspectos, chega a sentir fascínio por aqueles que, em verdade, abominam o esquerdismo e só o usam para atender seus interesses por conveniência.
O "funk" e o "espiritismo" são esses exemplos. Os dois são fenômenos blindados pelas Organizações Globo e voltados a perspectivas conservadoras de abordagem social. Apostam na visão paternalista de assistência ao povo pobre, glamourizam a miséria de forma a permitir que as classes pobres vivam razoavelmente sem no entanto romper com sua situação inferiorizada na hierarquia social. Apesar disso, as esquerdas se comportam, em relação a esses dois fenômenos, como aquele loser apaixonado por aquela "mina" que nunca dá bola a ele.

No caso dos "espíritas", recentemente Divaldo Franco demonstrou seu direitismo, tanto quanto um Silas Malafaia, por exemplo. Divaldo fez das suas: apoiou a Operação Lava Jato, homenageou João Dória Jr. (um sujeito que nunca mereceria ser homenageado, vale lembrar), ofereceu o Você e a Paz para o lançamento oficial da condenável "farinata" e recebeu o farsante místico Sri Prem Baba, um esotérico tão risível que "prem baba" soa como uma corruptela de "trem-bala".
Pior: Ultimamente, quando o Tribunal Regional Federal da 4ª Região de Porto Alegre se torna o carrasco do ex-presidente Lula, símbolo das políticas progressistas e da verdadeira caridade, as sintonias entre os gaúchos conservadores e o "médium" baiano se fortaleceram. Divaldo Franco foi entrevistado por vários periódicos gaúchos, inclusive um de Santa Cruz do Sul, mas também sem deixar de citar o reacionário Zero Hora. Já a reportagem de um jornal de Santa Cruz do Sul, a Gazeta do Sul, começa com uma constrangedora e piegas declaração de uma devota de Divaldo: "Te amo". Patético.
As sintonias com Divaldo Franco com o Sul e Sudeste, em São Paulo e Porto Alegre, mostram o quanto o "médium" é uma figura conservadora, já reconhecível pelos seus trejeitos professorais dos anos 1940, de orador antiquado e pretenso professor à maneira dos velhos docentes da educação hierarquizada e sem serventia social para os dias de hoje. Não por acaso, a Mansão do Caminho adota padrões pedagógicos comuns aos princípios da Escola Sem Partido, "bandeira educacional" do vereador Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre.
Os "espíritas" já definiram as passeatas contra Dilma Rousseff como "início do processo de regeneração da humanidade" e "inauguração da pátria do Evangelho". Por associação, isso significa que os militantes de grupos como o Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua, Acorda Brasil e Revoltados On Line - na ironia do "espiritismo" brasileiro dizer abominar a revolta humana - são vistos como as "crianças-índigo" sonhadas por Divaldo Franco.

"MISSIONÁRIOS DA ORDEM DO BEM" OU ARTÍFICES DE UM TRIBUNAL DE EXCEÇÃO?
Divaldo Franco, com seu conservadorismo, se meteu em situações delicadas. Só mesmo a complacência dos esquerdistas com sua conduta de "cornos mansos" é que poupou o "médium" de qualquer enrascada.
A atitude dos esquerdistas em prol dos "médiuns espíritas" é deplorável. Seu wishful thinking em relação aos "médiuns" os impede de admitir que estes são, em verdade, figuras extremamente conservadoras e antiquadas. Mesmo antiquados - e, visualmente, Francisco Cândido Xavier e Divaldo sempre foram cafonas, tão antiquados que o primeiro livro poético lançado por Chico Xavier Parnaso de Além-Túmulo, recebeu esse título com base de um movimento poético já superado e fora de moda - , os "médiuns" ainda são idealizados pelas visões fantasiosas de seus seguidores, que veem esses ídolos não da forma como realmente são, retrógrados e reacionários, mas da forma como gostariam que eles fossem, futuristas e progressistas.
Grande engano. As esquerdas apanham porque apoiam funkeiros e "espíritas" alinhados com o poder midiático e a sociedade conservadora. Acreditam, com muitíssima ingenuidade, que Divaldo Franco e Rômulo Costa irão, juntos, levar Lula de volta à Presidência da República, só porque os dois estão associados a um apelo publicitário de pessoas pobres felizes.
Para piorar, as esquerdas apanham e acham que isso é como num ato sexual sado-masoquista, que confunde dor com êxtase. Acham que é "só coincidência" quando Rômulo Costa aparece junto com Luciano Huck ou quando Divaldo Franco homenageia João Dória Jr.. Esquecem que, no caso do "funk", Valesca Popozuda apareceu pelo menos duas vezes no programa de Danilo Gentili, símbolo do humorismo mais reacionário, e que, no caso do "espiritismo", o "amigo de Lula" João Teixeira de Faria, o João de Deus, sonhou em ver Sérgio Moro, o algoz do petista, presidindo a República. Amigo de Lula?
O apoio de Divaldo Franco à Operação Lava Jato - ele não disse nomes em seus depoimentos (mais de um), mas definiu toda a equipe desta operação juridicamente duvidosa como "Missionários da Ordem do Bem" protegidos pelo "Plano Superior Divino" - não pode ser subestimado pelas esquerdas e elas ainda precisam digerir o caso da "farinata" oficialmente lançada no Você e a Paz, com Divaldo Franco, por decisão própria e plena consciência de seus atos, porque Divaldo Franco não pode ser conhecido como o responsável pelo Você e a Paz só nos momentos mais felizes, mas também em momentos que são desfavoráveis ao "médium".
No caso da Operação Lava Jato, o apoio do "humanista" Divaldo, "tão humanista" que ofereceu seu evento para lançamento de um desumano projeto alimentar, é algo bem mais grave do que se possa imaginar. O próprio apoio da "farinata" já é algo grave, porque um suposto líder nada fez para evitar ou cobrar algum rigor a respeito de um composto alimentar que ele, aparentemente, não conheceu ou, se conheceu, sabia dos riscos de um alimento sem procedência nem qualidade nutricional conhecidas.
A Operação Lava Jato é feita de uma coleção de irregularidades. Seus juízes, procuradores, advogados e policiais adotam tratamentos parciais e seletivos de acordo com o status dos suspeitos: se forem do PT, são previamente condenados sem provas. Se forem do PSDB, são inocentados até se as acusações contra eles forem graves e fartas de provas. Sérgio Moro atua mais como um misto de delegado com advogado de acusação do que como juiz.

Um dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, comete uma gafe ao aparecer em foto orgulhoso com a tietagem, expressa numa camiseta que compara a Lava Jato com a Liga da Justiça, fictícia organização de super-heróis da DC Comics. O advogado Carlos Zucolotto, padrinho de casamento de Sérgio Moro e Rosângela Moro e sócio em muitos negócios com esta, aparece com o casal ao lado de integrantes da banda de rock Skank, que apoiou o tucano Aécio Neves para a Presidência da República em 2014.
O delator Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, denunciou atitudes extremamente preocupantes da Operação Lava Jato, com seus juízes e advogados negociando valores financeiros para livrar delatores da cadeia. Um ex-procurador da República, Marcelo Miller, envolvido no escândalo da empresa JBS (dos irmãos Joesley e Wesley Batista), é acusado de pedir para Tacla Duran escolher quem ele poderia delatar, o que é ilegal para um procurador.
As formas de julgamento da Operação Lava Jato demonstram caraterísticas de Tribunal de Exceção, marcado pela parcialidade de juízes escolherem seus condenados pelo critério destes não estarem de acordo com o status político dominante. São julgamentos que não são típicos do Estado Democrático de Direito e ferem direitos humanos por não respeitar o direito de defesa do suposto condenado - na verdade, um suspeito mal avaliado que "se torna condenado" - e por impor sentenças severas.
O julgamento de Lula pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, na mesma Porto Alegre que pelo jeito está "abençoada" pelo "médium humanista" Divaldo Franco, pelo jeito deve ter sido reforçada pelas "ótimas sintonias" nesses períodos de golpismo político apoiado com gosto pelos "espíritas".
João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Vítor Laus aumentaram até a sentença contra o ex-presidente, que era de nove anos e meio de prisão em regime semi-aberto para doze anos e um mês em regime fechado, o que, para um idoso de origem operária com 73 anos de vida, é quase uma prisão perpétua, levando em conta que Lula já enfrentou um câncer e sofre as pressões emocionais da campanha midiática que o difama e pela dor da viuvez, já que sua esposa Marisa Letícia faleceu em 2017.
Portanto, são coisas muito graves. As esquerdas ficam com a pulga atrás da orelha quando se fala que Divaldo se envolveu em eventos de direita. Ficam pedindo para Divaldo "rever posições", "corrigir atitudes", sem conseguir dar explicações ou coisa parecida. Os esquerdistas que ficam complacentes com o "médium" baiano ficam confusos, porque o Divaldo que suas fantasias e sonhos definiram nunca é o Divaldo real, uma figura ultraconservadora (como Chico Xavier também foi), o "filantropo da Rede Globo" como se fosse, neste sentido, uma versão sênior do Luciano Huck.
As esquerdas têm que acordar de certas complacências, de certos caprichos do wishful thinking. Foram apoiar o "funk" e o "baile funk" de Copacabana, em 17 de abril de 2016, organizado pelo amigão de Luciano Huck, Rômulo Costa da Furacão 2000, facilitou a expulsão de Dilma Rousseff, numa ação de inimigos internos que fingiram ser apoiadores da presidenta. Agora, imaginando que os "médiuns espíritas" vão salvar Lula, os esquerdistas têm que engolir Divaldo Franco e João de Deus e o que vier de "médium" similar apoiando a queda do petista, sob a desculpa de que o ex-presidente "não cumpriu com os princípios da fé cristã".
Os esquerdistas têm que se desapegar dos "médiuns espíritas", antes que sejam engolidos por eles. Bondade não tem rosto nem CPF, e pode-se muito bem viver sem esses pretensos símbolos de bondade, cuja "caridade" é tão "profunda" quanto um quadro do Caldeirão do Huck.
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