Uma coisa chama a atenção no tal "espiritismo" brasileiro. É a manifestação de pedantismo em vários aspectos, que criam um falso cientificismo e um pseudointelectualismo dentro da doutrina brasileira, que faz com que até igrejeiros possam posar de "sábios" diante de seus seguidores.
As publicações "espíritas" e os seminários mostram, como exemplos, ilustrações de cenários cósmicos ou de figuras da anatomia humana, prometendo uma análise filosófica e científica, com evocações aparentes a conhecimentos físicos, químicos, biológicos e antropológicos, mas sem a profundidade necessária, mas através de conceitos confusos corrompidos por abordagens esotéricas, místicas.
O "espiritismo" virou a religião dos que tiram "nota vermelha". Físicos frustrados se tornam articulistas e palestrantes a fazer descrições superficiais sobre conhecimentos físicos. Romancistas incompetentes viram sucesso imediato através de romances "mediúnicos" que são meros dramalhões temperados pelo moralismo religioso.
O caráter de incompetência e incompreensão típico do Brasil - exemplos recentes são a atuação irregular do juiz Sérgio Moro e do governo do presidente Michel Temer, cheio de transgressões à lei e à justiça social - , que em 1944 praticamente inocentou o "médium" Francisco Cândido Xavier com o empate jurídico diante do processo judicial sobre os pastiches literários atribuídos ao "espírito Humberto de Campos", permitem a supremacia social do "espiritismo" brasileiro.
Mas como essa supremacia existe, se o "espiritismo" só é representado por 2% da população brasileira? Simples. É porque, diferente de outras religiões, como o Catolicismo e as seitas evangélicas neopentecostais, os escândalos dos "espíritas" são acobertados ou, se ocorrem, são abafados, garantindo uma impunidade que nem os alinhados ao poder, como o católico Gabriel Chalita e os neopentecostais Silas Malafaia e Marco Feliciano, possuem.
A impunidade "espírita" faz com que esta religião, diante da desinformação generalizada cultivada pela grande mídia, se torne o exílio de pessoas sem profundidade intelectual. Donas-de-casa que acham que podem entender de Ciência e Filosofia, e há até casos como o do "médium" Nelson Moraes que montou um tal de "Zílio" se baseando em um Raul Seixas caricato que viu no Fantástico e revistas como Contigo, não necessariamente especializados em rock brasileiro.
O próprio Chico Xavier é empurrado ao falso vínculo de virtudes diversas: psicólogo, filósofo, cientista, cientista político, profeta, jornalista, intelectual etc etc etc. A "profecia da data-limite", com suas falhas de abordagem geológica e sociológica (propõe, por exemplo, que eslavos possam migrar para o litoral nordestino, quando a História registra que os primeiros eslavos a povoar terras brasileiras procuraram os Estados do Sul), também é um exemplo desse pedantismo pretensamente científico dos "espíritas".
Divaldo Franco, com sua verborragia não muito diferente da de um político demagogo do interior do Brasil, também é classificado como "professor", "cientista" e "filósofo" por seus fanáticos seguidores, por conta de estereótipos que remetem ao professor das décadas de 1930 e 1940, pretenso "dono do saber" em épocas em que as relações entre alunos e professores são bastante hierarquizadas.
E isso quando o "filósofo" Divaldo aposta numa tese absurda como a das "crianças-índigo" inventada por um casal norte-americano visando ganhar dinheiro com misticismo barato e que, com tanta ganância pelo sucesso da farsa, acabou se divorciando. Ver que uma fraude dessas é corroborada por Divaldo e pelos "espíritas" na esperança de encontrar um "menino Jesus" no "movimento espírita" é algo que revela, isso sim, falta de sabedoria e muita cara-de-pau.
O "espiritismo" reflete um país de compreensão parcial e tendenciosa das coisas, quando pessoas se acham "inteligentes" por nada e supostos especialistas possuem um desempenho em suas áreas que vai do medíocre para baixo. O "espiritismo" é o reflexo dos vícios que existem no Brasil, que por esse contraste entre pretensa sabedoria e ignorância profunda não consegue sair do atoleiro social que garante sempre o triunfo dos valores retrógrados e dos privilegiados abusivos.
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